terça-feira, novembro 28, 2006

Até

Eu ia falar sobre o Pato, mas ainda é muito cedo. Próxima semana vou estar em Porto Alegre, e aproveitar pra ver o Pato, sábado no Beira-rio. Atualizo o blog quando voltar, abraços.

sábado, novembro 25, 2006

Mostra a tua cara

Era naquela casinha marrom de dois cômodos, a rua sem saneamento básico. Breno brigara com o mestre da obra, Dalva esperando o quinto herdeiro há seis meses, (e o Breno há 4 dias). Dalva tem sua casa e a de dona Ornela pra dar conta, tem que entrar na fila do SUS atrás da ficha da consulta pra caçula, tem que ir à escola do Jeremias, foi chamado da direção e ainda não pode faltar à aula noturna, está se alfabetizando numa classe de EJA, pois quer assinar a carteira de trabalho um dia.. Em meio a essa rotina, Breno volta com a noticia da perda do emprego e com o resultado que a mesma provocou. Era melhor ele não ter vindo naquele dia, mas Dalva nem sondou a hipótese de dar queixa. Perguntada sobre sua situação, Dalva observa:
- Devo tudo que tenho à Dona Ornela, que quase sempre me paga em dia, e quando não paga, manda algo pras crianças.

terça-feira, novembro 21, 2006

Os diferentes sabores dos domingos (1ª parte)

E você era a princesa que eu quis coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país.



Foi nos anos setenta, do século passado, um pouco da nossa adolescência. O primeiro compromisso social era a missa das 10, não era propriamente um compromisso religioso, íamos para olhar a Beth, nossa musa inspiradora das manhãs de domingo, sua mini saia e suas pernas róseas, mil imaginações. Na saída, reuníamos a turma e ganhávamos a Gaspar, nenhum comentário sobre o sermão do padre, mas sobre ela, alguns se gabavam de ter ganhado um olhar, outros comentavam sua roupa, seu cabelo. Eu, muito pouco ou quase nada de olhada recebi, não fazia mal, quem sabe no domingo seguinte, era pouco provável, mas o platonismo aceita tudo, ainda mais dela, que além de linda era parente do padre, e isto, para época, não era pouca coisa.
A primeira parada obrigatória era na esquina da Casa do Povo (que do povo mesmo não tinha nada), comprar as carrapinhas que ali um vendedor alto e silencioso vendia, e era só no domingo. Mais adiante, a cigarraria do seu Chiquinho Padula, outra parada obrigatória, olhar as capas das revistas da semana, a Placar, o Fantasma, Cavaleiro Negro, etc. Conforme a mesada, que era semanal, comprava-se alguma revista, mas isso não era muito comum, comprávamos uns chicletes ou picolé e íamos em direção ao Cine Glória para ver o que ia passar no matine da uma (1 hora). Depois de olhar os cartazes, nos dispersávamos rapidamente, tínhamos que ir almoçar com família e voltar rápido para o cinema. Almoço de domingo lá em casa era sempre com a família, era uma das questões de honra do pai e nós cumpríamos, lembro que domingo sempre tinha pastel (mas os bons mesmo eram os da Marieta) e refrigerante, naquela época, ele (o refri) não era tão banalizado, lá em casa, só aos domingos.
Após um rápido encontro para reunir a turma na frente da cigarraria, era questão de minutos e brotava gente de todas as esquinas, marchávamos até o cinema, alguém recolhia o dinheiro para as entradas, mas antes, outra parada obrigatória – comprar sorvete do seu Romeu no Bacacheri – um gosto impar (o Tubino disse que vai ressuscitar o sorvete com a mesma fórmula). Excitados, entrávamos em fila no cinema, ficávamos alguns minutos no hall de entrada, alguns encontravam suas namoradinhas e sumiam para os locais mais despovoados “do escurinho do cinema”, eu nunca entendi o porquê. Outros iam se abastecer de balas (as de goma eram minhas preferidas), chicletes (os de caixinha era a novidade, porém mais caro) e chocolates (bastão de leite nunca mais vi).

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboi era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque e ensaiava o rock para os matines.

Sentávamos numa fila só, expectativa grande, apagava a luz, a gritaria e a bateção de pé era infernal e ensurdecedora, sacos de pipoca eram estourados e voavam para todos os lados, e alguns com o conteúdo dentro, o lanterninha, alucinado, em passos largos, ia, sem parar, de ponta a ponta do corredor. A cada fileira em que passava, a frase do estigma lhe rompia os tímpanos: “O lanterninha é o bixo!”. Começava a musiquinha do canal 100, futebol, sempre o Flamengo contra alguém, no Maracanã: tararãaa, época do Fio Maravilha, vi o Luizinho do América fazer dois gols no Flamengo e virar cambalhota, virei americano no Rio. A sessão era dupla, quase sempre um faroeste e um filme de guerra, cultura norte-americana direto na veia. John Waine matando muito índio, ou o Guliano Gemma, meu preferido, nos filmes de guerra, geralmente, os ianques massacravam algum povo em nome da paz e da liberdade, no cinema, não perderam nenhuma para o Vietnan. No meio disso tudo, momentos sublimes, quando o mocinho beijava a mocinha, era um frisson geral: ohhhhhh! Quando estávamos com a namoradinha, ia-se no embalo, roubar um beijo.

Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião, o seu bicho preferido.
Vem, me dê a mão, agente agora já não tinha medo.
No tempo da maldade, acho que a gente nem tinha nascido

Falando em maldade, a ditadura militar “comia frouxo”, pouco ficamos sabendo das atrocidades na época, já era meados da década de 70, e nós também íamos nos transformando, estávamos ficando maiores, íamos mudando em muita coisa, uma delas, passamos do cinema da uma para o das quatro (por pouco tempo) e já ganhamos o direito de ir à noite (mas essa é outra estória). Quanto à missa das 10, a ampla maioria já não ia mais, a Beth tinha ido embora para outra cidade, a perda foi significativa, mas não irreparável, logo encontramos outra musa coletiva – a Italianinha – por isso, muitos, após o cinema da uma, iam para a Sociedade Italiana, ganhar inspiração, mas, na maioria das vezes, contentavam-se em ver o jogo de bocha. Agora, havia chegado a hora de descobrir os sabores mágicos da noite.

Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim.
Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim
(Canção João e Maria – Chico Buarque de Holanda)


José Ernesto Alves Grisa
Professor de Sociologia e Extensão Rural

domingo, novembro 19, 2006

Acordo


Meu coração me contou
Que você desfilou

Desse jeito, no meu peito
Sem receio de dançar amor


Com o levar da canção
No embalo da mão

Eu me encanto

Com o traço do teu passo

Que desenha um sonho bom

E quando eu acordar, quero te ver por perto
Meu dom de esperar ainda é bem incerto

Ah! Vou contar...

Sem você por aqui é tão ruim


Lá da janela de cima

Eu busco as rimas

Pra compor esses versos de amor

Só pra te agradar


E já no ponto final

Ainda é normal

Que eu te diga

Da briga com a vida

Longe de você

segunda-feira, novembro 13, 2006

Previna!

Meus níveis de irritabilidade crescem assustadoramente, em lugares de serviços públicos, onde a burocracia impera. Mas é em hospitais que fico realmente nos nervos. Hoje fiquei esperando em um corredor de hospital por, aproximadamente, uma hora. Foi tempo suficiente para reparar em alguns detalhes. Ao lado do prédio em que eu estava, fica o pronto socorro do SUS, que funciona normalmente, ao mesmo tempo em que passa por uma reforma. Os pedreiros faziam seu trabalho ao sol, lançando tijolos e subindo em andaimes oscilantes, com grande empenho, velocidade e uns até sorriam bastante. Já os poucos médicos que vi cruzarem nos corredores, tinham passos lentos e atenção distante. Os funcionários administrativos, com algumas exceções, deixam parecer que cada atendimento é um favor que estão fazendo, entraram já em uma lógica da estrutura. Pessoas esperando por exames, idosos por quartos e outras tantas por atendimento. A espera é uma constante, e a exigência de documentos, cadastros, telefones, estado civil, dinheiro da consulta e, depois, o do medicamento faz as dores até passarem. Imaginem se os pedreiros ganhassem um terço do salário dos doutores com graduação e residência...

domingo, novembro 12, 2006

Anjo de vidro


Sabe aqueles filmes tipicamente americanos, que começam com cenas com neve e comprimentos de natal, pois é, Anjo de Vidro tem essa característica. No entanto, apesar de ser comum, o filme comove. Se pega você num dia não muito eufórico, então, aí pega mesmo, e isso é bom. Estranho seria não se sensibilizar, já que são histórias de vida que realmente acontecem, sem os vinhos e as roupas chiques, na maioria das vezes, mas acontece. Detalhe importante, conta com Penélope Cruz no elenco, atriz que também brilha no novo filme de Pedro Almodóvar, Volver, que está estreando nos cinemas.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Digital


Quero agradecer publicamente a carta, achei uma atitude muito carinhosa e respeitosa, claro que algumas passagens ali contidas eu não esperava ler, mas são coisas da vida. De tudo que foi ressaltado nela, creio que a essência reside em duas questões fundamentais. A primeira, é a amplitude dos desafios que temos e que teremos como seres humanos a partir de agora, e a segunda, é a discussão de que escolhas estamos fazendo e vamos fazer relativas a quem nos acompanha e nos acompanhará na caminhada frente a esses desafios. Apesar de o correio não andar tão arisco como antigamente, cartas já não são tão usadas, foi realmente uma grata surpresa. A punho as palavras ganham bem mais vida e, com isso, significado, assim como o tato nos desvenda a presença de modo mais visceral.

terça-feira, novembro 07, 2006

Atemporal


Dos velozes dias dos lentos momentos
Dos longos descansos e dos olhos atentos
Dos brinquedos da voz dizendo verdades
Dos carinhos eternos ao segundo de eriçar-se
Do jogo das músicas ao esquecer da dúvida
Do dia nublado aos primeiros pingos
Formando a chuva que levou meu íntimo
Molhou o vidro desvelando a realidade
E deixou meu peito transbordando de saudade.