sexta-feira, novembro 13, 2015

Pessoas merecem respeito, suas opiniões nem sempre.



Um discurso que sempre me inquietou foi o de que "todas opiniões devem ser respeitadas", respeito aqui entendido como aceitação de qualquer opinião, por mais estapafúrdia que ela seja. 

Esse discurso, que me incomoda, é muito forte quando o tema é a crença religiosa ou política das pessoas. Lendo um texto do controverso filósofo Slavoj Zizek encontrei a seguinte passagem:

"O respeito às crenças dos outros como o valor maior só pode significar uma de duas coisas: Ou tratamos o outro de forma condescendente, evitando magoá-lo para não arruinar suas ilusões, ou adotamos a posição relativista de vários “regimes da verdade”, desqualificando como imposição violenta qualquer posição clara em relação à verdade".

Eis o problema, não estou disposto a tratar o outro de forma condescendente e nem estou de acordo com o relativismo que aceita infindáveis "regimes de verdade". 

Então, em uma palestra recente que assisti do filósofo espanhol Fernando Savater ele me ajudou a sair desse labirinto, do seu ponto de vista não existe bobagem maior do que dizer que todas as opiniões são respeitáveis. 

“Todas as pessoas é que são respeitáveis, tenham as opiniões que tiverem. Mas as opiniões em si não são respeitáveis. Se uma pessoa acredita que dois mais dois são cinco, não deve ser presa ou torturada por isso. Mas a opinião de que dois mais dois são cinco não é mais respeitável que a opinião de que dois mais dois são quatro."

Temos de nos acostumar a distinguir que a forma de respeitar as opiniões é discuti-las. Do latim, 'discutere' era puxar uma árvore para ver se tinha raízes fortes ou não. Quando alguém discute uma opinião, quer ver se ela tem raiz na realidade, ou se é algo superficial.

A superstição que embasa os grandes preceitos do pensamento religioso e do criacionismo não é respeitável. A reprodução do senso-comum que sustenta as pautas reacionárias conduzidas pelo Congresso Nacional mais conservador da era moderna não é respeitável. 

A superficialidade política que alimenta o sentimento punitivo, o preconceito e a criminalização dos movimentos sociais e da população pobre não é respeitável.

Fazer a didática separação entre a pessoa e suas opiniões é muito importante para que o debate público se aprimore, para que a onda de burrice raivosa (como dizem Eliane Brum​ e Marcia Tiburi​) que vivemos seja combatida, para que não troquemos o debate essencial e necessário pelo contingente. 

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