sexta-feira, janeiro 09, 2015

Atrasos de bolsas da Capes expõe descaso com a educação



Estamos vivendo a prova real de que os pesquisadores de pós-graduação com bolsa de estudos são também trabalhadores. Assim como os professores bolsistas de cursos de formação e especializações à distância. As contas de aluguel, luz, gás, condomínio, internet, telefone, televisão não se sensibilizam caso esses profissionais fiquem mais de 2, 3 ou 4 meses sem receber nada. As contas vencem, cobram juros, cortam serviços.

Hoje no Brasil milhares de pós-graduandos, que não tem direito a décimo terceiro, a férias, a plano de saúde, a seguro desemprego e a previdência, estão entrando no cheque especial, no limite dos cartões de crédito, fazendo empréstimos para honrar suas despesas, para vestir e comer. Isso ocorre no exterior também, na Inglaterra bolsistas da Capes receberam ajuda da universidade local para se alimentar e pagar transporte.


Porque chegamos a esse cenário? Em função de problemas burocráticos na realocação de recursos do Ministério da Educação para a Capes e FNDE. Esses problemas ocorreram antes da virada do ano porque o orçamento da pasta da educação se adapta ao corte orçamentário de 7 bilhões de reais para 2015, equivalente a 31% do ajuste total feito pelo governo, ministério mais afetado.

Com isso, só podemos interpretar a pecha presidencial "Brasil: pátria educadora" como uma pobre peça retórica que tenta apaziguar no discurso a dureza anti-popular das medidas reais que marcarão o próximo período. 


O trabalho feito por professores bolsistas e pós-graduandos sustentam o sistema científico brasileiro e o processo de formação de pessoal. Muitos pagam viagens, materiais, estadas com seu dinheiro para receber ressarcimento meses depois e não podem contar com sua bolsa regularmente, pois essa fica refém de percalços burocráticos e manobras orçamentárias. Precarização do trabalho na sua plenitude. 


Tal desrespeito é uma evidência e não um discurso, no mundo real o que vale são as ações concretas e essas indicam descaso. Já na política, as intenções e a retórica podem convencer ou iludir, mas não pagam contas e não garantem direitos fundamentais. A austeridade vem afundando os países do norte, mas aqui tentam nos convencer de que essa é a única saída. Quem paga por isso são os professores, pesquisadores e estudantes. 

Gregório Grisa

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