quinta-feira, dezembro 04, 2014

Educar para a ética e a cidadania



Por Márcia Tiburi,

A desvalorização da esfera pública parece ser um fato cultural generalizado. Mas a cultura é também formação. Isso quer dizer que ela se cria também pela educação. Creio que o descaso com a formação, no sentido mesmo de educação, leva ao abandono da esfera pública. É a nossa formação que nos ensina a valorizar alguma coisa.

Vivemos sob uma espécie de nuvem pesada em nome da qual algo como a própria ideia de “sociedade” não vale a pena. Então, as pessoas se voltam para si mesmas. Surge uma moral individualista, em que os interesses privados são sempre maiores do que os públicos.

Tudo o que é pessoal parece ser antissocial. A aniquilação da esfera pública significa, neste caso, fim do “político”. A questão seria tentar reconectar esses territórios, o pessoal e o político, a esfera privada e a pública, mostrando como são interdependentes.

E a grande pergunta é sempre a pergunta pelo “como”. Mas “como”? Aquilo que está possivelmente sendo feito nas escolas provavelmente seja nada, salvo alguma alternativa pontual que não vem a público. Quer dizer, não sabemos o que fazer e não imaginamos que alguém esteja fazendo algo.

Então, o que precisaria ser feito: campanhas de conscientização, debates, textos de divulgação do tema, projetos pedagógicos e culturais em torno da ética. É provável que o tema da ética seja assunto apenas dos professores de Filosofia, mesmo assim é provável que seja tratado em poucas aulas e na forma de um conteúdo a ser transmitido.

A ética não é um conteúdo, ela é uma reflexão e uma prática de reflexão que leva a outras ações. Mais precisamente uma filosofia prática. Como ensinar filosofia prática? Ensinando a pensar. Como ensinar a pensar? Conversando, propondo desafios teóricos e práticos, que envolvam pesquisa e ação, investigação e arte.

Há coisas muito práticas a fazer: praticar a sinceridade, a autorreflexão, a autoformação. A sinceridade deve ser uma prática ética. As coisas, por mais dolorosas que possam ser, por mais comprometedoras, devem ser ditas. Certamente, a principal mediação a esse gesto deve ser o respeito.

O problema é que vivemos numa cultura em que o descaso consigo mesmo e com o outro é a regra, e o respeito a si e ao outro não encontra sentido. O problema é que as pessoas esquecem ou nunca conheceram essas potencialidades. Refiro-me ao autoconhecimento. Talvez isso deva novamente ser colocado em cena.

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