terça-feira, abril 30, 2013

O mundo ainda é cruel com as mulheres


As mulheres conquistaram nos últimos 70 anos mais direitos e espaços do que nos últimos 300, administram suas vidas privadas de um modo mais soberano.Além disso, têm a liberdade sexual como marca dos nossos tempos, embora ainda não tão aceita como a masculina.  Entretanto, nas relações amorosas as mulheres ainda são penalizadas em alguns aspectos. 
Vou ser genérico, me referir a aparentes maiorias, pautado nas minhas impressões, que podem estar perto ou longe da realidade, ciente de que as exceções existem em todos os casos. O conteúdo do texto é de indagações e opinativo, não científico.
São recorrentes nas redes sociais, nas conversas de bar e nos divãs familiares as constatações de que as mulheres estão com dificuldades para conseguir namorados, companheiros para dividir a vida. Os homens ainda estariam em uma situação privilegiada, tanto por haver bastante demanda feminina, quanto por se sentirem melhor em relacionamentos abertos e esporádicos, isto é, não aparentam necessidade de namorar.
Não sei até que ponto isso procede estatisticamente, mas creio que há coisas aí que fazem sentido. Importante dizer de antemão que não estou afirmando, em absoluto, que todas as mulheres estão desesperadas ou buscando se relacionar e nem que todas estão com dificuldade para encontrar parceiros duradouros.
Os homens, em um primeiro momento, querem uma mulher bonita de rosto e de corpo, como sugere o padrão. Mas também buscam uma mulher inteligente, delicada, informada, socialmente envolvida e etc. Lógico que as mulheres também querem homens com essas características, todavia, diante das diferentes condições de gênero e distintas aspirações para namorar, elas estão mais sujeitas a investir em casos furados do que eles. Será?
Hoje, apesar de uma maior autonomia feminina, elas ainda querem se apaixonar, namorar e casar.  Inclusive porque já há maturidade suficiente, em várias relações, para ser livre e estar em um “relacionamento sério” com alguém. 

Homens demoram mais para decidir se relacionar? Mulheres gostam de se apresentar em um relacionamento mais que os homens? Mulheres passam por frustações amorosas (de ser deixada ou deixar alguém) mais que homens? Será? Ou elas falam mais disso entre amigas/os do que eles, e por isso se tem essa sensação? Vamos supor que as respostas para essas perguntas sejam positivas.
Os papéis estão dispostos em uma sociedade desigual em termos de gênero, para que elas consigam um homem “bem sucedido”, elas têm de estar bem de corpo, bem de mente, serem interessantes e confiáveis, mas, surpreendam-se, não necessariamente precisam ser “bem sucedidas”. O homem “bem sucedido” na nossa sociedade não tem metade das qualidades exigidas de uma mulher para um relacionamento e teme mulheres independentes.
É claro que estou criticando esse perfil de “bem sucedido” que, em geral, é sinônimo de ser rico, por vezes conservador, um tanto alienado socialmente e especialista em algum tipo de negócio. O grande problema é que um cara bacana, seja lá o que isso signifique pra cada mulher, também exige aquelas características (bonita, gostosa, inteligente e politizada) para se relacionar, o machismo vivíssimo tem responsabilidade sobre essa lógica. O homem muito bacana tem, quase sempre, os mesmo critérios de exigência para se relacionar que um homem detestável, isso infelizmente é um tanto padronizado.
Caso esse cara bacana não encontre seu perfil de mulher preferido, ele não namora e segue se divertindo. Caso as mulheres não encontrem seu perfil desejado de homem, em muitos casos, namoram pessoas com outro perfil, por inúmeras razões como pressão social, baixa autoestima e idade. Ratificando que esse é um exercício de generalização.
A "necessidade" feminina de ter alguém para mostrar às amigas e para família é construída historicamente, a mulher ainda nasce em um mundo machista em que a "felicidade" é relacionada a casar e ter filhos, em que a mulher solteirona é tida como infeliz e derrotada. Diferente do homem solteiro que é encarado como “moderno”. É claro que ter alguém para dividir a vida é ótimo e significa ser feliz, mas não a qualquer preço.
Mulheres podem querer se tornar "interessantes", infelizmente, para acatar exigências de uma sociedade com relações de gênero desiguais, essa é a vida real. Isto é, tentar se adaptar a um conjunto de critérios sociais e padrões estéticos. Porém, quanto mais as mulheres conseguirem identificar o que é construído socialmente e fruto do machismo, elas poderão ter mais paciência para escolher suas relações, saberão quais características combinam com elas e quais representariam forçar a barra.
Cuidar do corpo, cuidar da mente, ler, aprender sobre diversos assuntos, viajar, ser polida/o, educada/o são atitudes que não devem ser tomadas para conseguir um namorado/a, pelo contrário, é no processo eterno de desenvolver essas atitudes para si que pode se conhecer alguém que vale a pena ficar junto.
Ser interessante é algo amplo, depende para quem, por isso é importante se tornar interessante para si. Os homens também querem namorar e casar, só estão confortáveis em um universo que exige adequação das mulheres e não deles. Um universo em que seus amigos lhe cobram a solteirice, mesmo quando eles namoram, e em que elas são cobradas para ter alguém, para casar. 
Vivemos em uma sociedade em que a fulana é mulher do ciclano e não o contrário, em que a lógica da mulher como propriedade, ainda que problematizada, persiste, haja vista, os dados da violência doméstica crescente contra a mulher, em geral, agressões protagonizadas pelos seus companheiros[1].
Namorar envolve elementos que transcendem uma “boa aparência”, essa é a riqueza e a complexidade de se relacionar. Há de se representar para o outro um acréscimo, ser visto/a como alguém necessário para a vida do outro, o que é bem diferente da vida exigir que é necessário ter alguém só por ter. Creio que não é adequado pensar em “conseguir” alguém, mas sim pensar em se encontrar com alguém, conhecer, conviver pouco, conviver mais, avaliar esse convívio e diagnosticar se a relação representa soma.
“Falar é fácil”, eu sei, mas o faço em tom de “pensar sobre”, já que esse tema é infinito, complexo e guarda as surpresas mais interessantes e inimagináveis.

Gregório Grisa



[1] O número de mulheres mortas por violência doméstica em 2012 no RS é 100% maior do que no ano anterior. E dobrou o Número de Homicídios de Mulheres no Brasil nos Últimos 30 Anos. http://www.editoramagister.com/doutrina_24101286_DOBRA_O_NUMERO_DE_HOMICIDIOS_DE_MULHERES_NO_BRASIL_NOS_ULTIMOS_30_ANOS.aspx

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