quarta-feira, março 06, 2013

Sobre Chávez e a Venezuela

Vendo a televisão e lendo os jornais brasileiros, concluí que o caso Chávez e a situação da Venezuela é um dos temas que mais sofreram manipulação na história recente. É impressionante como articulistas da grande imprensa conseguem deturpar informações, depreciar, desrespeitar e fazer juízos vazios com base em suas convicções pessoais sobre democracia, economia e afins. Rotulam o ex-presidente venezuelano e o processo político desse país de todos os clichês que o pensamento liberal pode inventar.
Para fins didáticos vou listar aqui apenas alguns momentos de disputa e participação da população nas últimas décadas na Venezuela.

Eleições 

dezembro de 1998 -  Chávez foi eleito com 56% dos votos para presidência do país.

em julho de 1999 - eleições para a Assembléia Constituinte os apoiadores de Chávez - conquistam 120 dos 131 lugares.

2006 - Hugo Chávez foi reeleito presidente com 62.9% dos votos.

2012 - Hugo Chávez foi reeleito com 56% dos votos.

Referendos 

abril de 1999 - 70% dos venezuelanos manifestam-se favoráveis à instalação da Assembleia Constituinte chamada por Chávez.

1999 - A nova constituição foi redigida e, após submetida a plebiscito, é aprovada por 71,21% dos eleitores.

2002 - Chávez sofre golpe de Estado apoiado e articulado pela mídia privada. Em 48 horas volta ao poder por pressão popular. Sobre esse fato há um excelente documentário irlandês chamado "A revolução não será Televisionada".

2003 - A Coordinadora Democrática (uma coligação de partidos de direita e de esquerda, liderados pela Súmate, ONG contra o governo), organizou no final de novembro de 2003 uma recolha de assinaturas cujo propósito era convocar uma consulta popular na qual os venezuelanos se pronunciariam sobre a permanência ou não de Hugo Chávez no poder.

agosto de 2004 - ocorre a consulta e 58,25% dos votantes apoiaram a permanência de Chávez na presidência até ao fim do mandato.

dezembro de 2007 - Referendo sobre mudanças na constituição propostas pelo governo. 51% da população rejeitou as mudanças. O comparecimento às urnas foi de 55,1% e a abstenção de 44,9%.

Esse resumo que faço é no intuito de justificar minha repulsa quando ouço alguns comentaristas chamar Chávez de ditador, de caudilho, de autoritário. Isso além de um atentado a inteligência alheia é um desrespeito com o povo venezuelano e com os processos políticos lá construídos.
Por fim, quero propor um raciocínio simples na busca da imparcialidade possível. Chávez foi um governante corajoso que buscou mudanças de acordo com o que acreditava. Imprimiu seu pensamento sobre gestão, política e humanidade em suas ações, enfrentou interesses gigantescos e trilhou reformas com a radicalidade necessária para que elas acontecessem. Seguiu seus valores e sua ideologia.
Da mesma forma que fez Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, se apoiou em um pensamento neoliberal e privatizou o que pode, diminuiu o poder do Estado porque pensava assim e queria atender a determinados interesses. Assim como vários governos latino-americanos o fizeram, nos anos 90 principalmente.
Discordo frontalmente desses governos, porém, não os acho ditaduras, censores nem autoritários. Eles seguiram um pensamento, um conceito de democracia e de Estado dos EUA (país de dois partidos). Já Chávez, com quem concordo bem mais, seguiu o caminho oposto, teve outra postura diante da noção hegemônica de democracia.
A experiência venezuelana é rica e o país melhorou em todos aspectos, diferente do que se vê divulgado na mídia internacional.
Duas dicas para entender melhor isso:
1 - o livro "A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez" de Gilberto Maringoni.
2 - O documentário já referido "A revolução não será Televisionada"







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