Toda profissão que envolva educação
teria de ter como prioridade, prática e teórica, o lúdico, a imaginação, a
esperança e a poesia. O ato de trabalhar deveria ser produto e produtor da
criatividade, as experiências pedagógicas não deveriam descartar a intuição. Porém, o positivismo nos herdou uma noção de ciência em que a seriedade vence o humor,
em que a objetividade é mais importante que as descobertas processuais e que a
imparcialidade é possível. Ilusões!
A ética utilitarista que norteia a
lógica contemporânea faz com que o trabalho docente seja de gestão, de
produção, de adequação institucional e enquadramento metodológico. Como esse
trabalho pode ser prazeroso? Como desenvolver conhecimento crendo que só há uma
via para isso, no caso a razão pura e condicionada? Somos corpos eróticos, imagéticos e
ansiosos. Os prazos da escola e da academia são os mesmo para sujeitos com tempos
distintos.
Quando vivemos em uma sociedade em que
a aposentadoria é tida como redenção, é o momento de pararmos para
pensar no tipo de trabalho que estamos fazendo. Quando se trabalha forçado, para um
chefe, para ter dinheiro, para se manter ou para acumular sem sentido e não há
nenhum prazer no que se faz, há algo errado.
Imagine que lógica absurda sofrer uma
vida toda para chegar à "salvação" da aposentadoria no fim da trajetória e
considerar isso o encontro com a felicidade. Uma sociabilidade sadia em um
mundo diferente teria a aposentadoria como uma mudança de estágio quase não
desejada, haja vista, que os sujeitos têm no seu fazer o sentido da sua vida. O
magistério hoje é um lugar de sofrimento para muitas pessoas.
O educador considerado bom hoje é
aquele que cumpre metas, é produtivo, administra os estudantes com suas
técnicas. Desafio que alguém me mostre aspectos prazerosos nesse ofício. Somos
convencidos sistematicamente que nossa ferramenta, a palavra, não muda as
estruturas sociais. Essa descrença desgasta, desestimula e faz com que se
considere, erroneamente, educador de sucesso àquele mais colonizado e cerceador.
A ciência dura e burocratizada quer que
entendamos o mundo e suas relações de longe, quase de fora, na busca da vã
neutralidade. As relações se dão na linguagem e na memória, essas dimensões são
o recheio da vida e não existem sem o papel do educador e sua palavra.
Ter a coragem de dizer, de escrever e de
se rebelar são atos de coerência pedagógica, Rubem Alves diz que não devemos
formar professores, mas sim acordá-los, para que percebam qual ideologia tem e/ou reproduzem e se ela está de acordo com o que querem e acreditam para a vida.
Somos nossos dizeres e nos alimentamos com os dizeres alheios, é a palavra que
azeita a engrenagem das relações humanas, portanto, que não se caia na falácia de
que ela não muda nada porque nada se muda sem ela.
É na e pela palavra que dou o melhor de
mim, por isso, por uma questão existencial, tenho que crer que ela pode
melhorar o mundo e as pessoas.
Gregório Grisa
Gregório Grisa
2 comentários:
O neoliberalismo é a liberação para as correntes irrefreáveis que fazem desandar a construção da própria liberdade. Neoprisão.
A racionalidade enquanto superação das ideologias é confundida com uma razão empobrecida e demasiadamente metodológica. Isto é a redução da nossa mais verdadeira condição.
Estamos encapsulados no labor nada prudencial dos compromissos ausentes de promessas e saturados de ilusões, onde os sonhos são a perda da memória e acordar é marchar na história ditada pela função que nos é dada.
A burocracia da felicidade na desburocratização de levianas satisfações. O império do produto, da inutilidade das fontes, da ignorância das origens.
Mas ainda há alguns, como nós, que se realizam nas palavras. Pois, sabemos, foram as palavras que originaram a realização do mundo.
Parabéns pelo texto!
abraço
Obrigado Lucas, tua reflexão é poderosa e salve a palavra!
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