que vi, Sevilha;
cidade que veste o homem
sob medida.
Justa ao tamanho do corpo
ela se adapta,
branda e sem quinas, roupa
bem cortada
Cortada só para um homem
não todo o humano;
só para o homem pequeno
que é sevilhano
Que ao sevilhano Sevilha
tão bem se abraça
que é como se fosse roupa
cortada em malha
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Ao corpo do sevilhano
toda se ajusta
e ao raio de ação do corpo,
ou sua aventura.
Nem com os gestos do corpo
nunca interfere,
qual roupa ou cidade que é
cortada em série.
Sempre à medida do corpo
pequeno ou pouco;
ao tacto baixo míope,
ao pés do coxo.
Nunca tem panos sobrando
nem bairros longe;
sempre ao alcance do pé
que não tem bonde.
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O sevilhano usa Sevilha
com intimidade,
como se só fosse a casa
que ele habitasse
Com intimidade ele usa
ruas e praças;
com intimidade de quarto
mais que de casa.
Com intimidade de roupa
mais que de quarto;
com intimidade de camisa
mais que casaco.
E mais que intimidade,
até com amor,
como um corpo que se usa
pelo interior.
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O modelo não é indicado
é a nenhum nórdico;
lhe ficará muito curto
e ele incômodo.
Ele ficará tão ridículo
como um automóvel
dos que ali, elefânticos,
tesos, se movem,
Nas ruas que o sevilhano
fezpara sim mesmo,
pequenas e íntima para
seu aconchego,
sevilhano em que se encontra
ainda o gosto
de ter vida à medida
do próprio corpo.
João Cabral de Melo Neto
in Morte e vida severina e outros poemas em voz alta.
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