O tom provocativo do título se
deve ao fato de que no vestibular desse ano as vagas reservadas para alunos
egressos de escolas públicas autodeclarados negros serão mais preenchidas na
UFRGS. Uma mudança, pautada pelo DCE e promovida pelo CEPE (Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão), responsável por medidas técnicas referentes ao
vestibular, fez com que mais redações dos candidatos cotistas fossem
corrigidas, fazendo com que as vagas oferecidas fossem ocupadas em maior escala. Essa medida
se deu para solucionar uma discrepância que existia entre a Decisão 134/2007
que implanta a reserva de vagas (que prevê 30% para alunos de escola pública e
alunos de escola pública autodeclarados negros) e o processo seletivo (vestibular)
e suas dinâmicas.
Com o ingresso de mais alunos
negros, inclusive nos cursos mais procurados, a resolução acima mencionada, aprovada legitimamente pelo Consun (Conselho Universitário) em 2007, começa a
ser efetivada. Apesar de todo o impacto inclusivo no ingresso de alunos de
escolas públicas e negros desde 2008 através das cotas, tínhamos um déficit
grande em relação à ocupação das vagas ofertadas, principalmente no caso dos
autodeclarados negros.
Com o fato histórico de que, por
exemplo, no curso de medicina ingressaram 21 candidatos negros, a
pseudopolêmica voltou a ser tema central da imprensa. Interessante pensarmos
sobre o cenário de conflito que parte da grande mídia tenta produzir quando
trata das cotas na UFRGS. Esse movimento se dá em duas frentes, a primeira é a
tentativa de reeditar, devido a reavaliação que vai ocorrer em 2012 da
política, um debate defasado de ser contra ou a favor de cotas. As
universidades brasileiras estão em outro nível de diálogo sobre essa matéria,
as cotas são políticas consolidadas nas maiores instituições do país e as
energias dos gestores e professores estão centradas no processo de qualificação
dessa política pública.
Outra frente que denuncia a
parcialidade de algumas matérias jornalísticas é a tentativa de inculcar um
pânico generalizado na comunidade acadêmica e na sociedade no que se refere ao
rendimento dos alunos cotistas e a possibilidade deles terem dificuldade de
acompanhar e se formar. Essa alusão advém do argumento preconceituoso da
possível baixa da qualidade requentado ou revestido pela preocupação de que os
alunos se formem. Por trás dessas tentativas de enfraquecer as ações
afirmativas está à noção ainda medieval de que a universidade é lugar somente
do mérito e não é espaço para se promover ou impulsionar mudanças sociais,
simbólicas e de valores.
Na Ufrgs no máximo 30% dos alunos
se formam no tempo mínimo do curso, são minoria em todos os segmentos e áreas
de conhecimento. Inclusive por essa razão que os alunos têm o direito de se
formar no dobro do tempo de duração do seu curso. O desafio da universidade é
dar condições para que todos os alunos se formem no tempo adequado e não
somente aos cotistas, até porque qualquer avalição feita com apenas cinco anos
de cotas é bastante precoce e limitada, tendo em vista que pela média geral
poucos cotistas irão se formar nesse período.