quinta-feira, dezembro 10, 2009

A Helena Negra posta "no seu lugar".



Os dias de glamour da primeira Helena negra foram poucos. No capítulo de ontem, numa cena que fazia uma alusão direta à noção de soberania branca, a personagem negra se ajoelha aos pés da mulher branca e pede perdão. Após isso, dotada de toda autoridade, a "mãe branca e zelosa" dirige um violento tapa na cara na personagem negra que resignadamente aceita a punição.

A cena chocou diversas pessoas. No caso particular das mulheres negras, todas se recusaram a se reconhecer daquela forma e se revoltam contra aquela atitude submissa e passiva diante da violência racial. Aquela cena teve uma repercussão desastrosa em cada uma de nós. A postura submissa da Helena negra vai contra a forma como hoje, e sempre, reagimos à violência racial e ao autoritarismo, seja pelo amparo da lei, seja impondo respeito diante daquele ou daquela que insiste em rememorar os tempos da escravidão, cobrando de nós o eterno deferimento e subserviência. Assim, a trama da novela vai contra a política e debates atuais que visam a igualdade de direitos e a postura autônoma que praticamos no nosso cotidiano e ensinamos a nossas jovens e crianças negras.

A cena de ontem também vai contra os argumentos daqueles que se negam a admitir a existência do racismo no Brasil, que se afirma no imaginário do autor. O capítulo de ontem, por si só, fala da insistente crueldade da elite brasileira de negar o problema do racismo ao mesmo tempo em que, de maneira nefasta, não abre mão de se manter numa posição privilegiada. . A Helena negra é culpada por ter abortado, por ter casado com um homem branco e por não ter "cuidado" devidamente da enteada, numa relação que muito nos lembra mucama e sinhazinha. Não só Helena, mas também a personagem da atriz Sheron Menezes tem a mesmo postura submissa, que paga (literalmente) um alto preço para estar com um homem branco.

Ambas sucumbem diante da supremacia branca retratada na televisão brasileira, ambas não tem dignidade e não representam a luta cotidiana dos homens e mulheres negras que diariamente enfrentam o racismo neste país. Ao que me parece, é muito difícil para a dramaturgia brasileira esconder este ranço ordinário da mentalidade escravocrata e racista.


Luciana Brito
Mestre em História UNICAMP
Movimento Negro Unificado-Bahia"

2 comentários:

Andréia disse...

Cena ridícula esta. Nem considerei o fato da Helena ser negra, mas da cena patética nesta imagem que a vi numa revista dias atrás.
A propósito, hoje vi o título (não li a reportagem) sobre o novo filme da Disney: "a princesa e o sapo". Em épocas de presidente Obama, cabe uma análise sobre o assunto.

Helio Ventura disse...

As excelentes reflexões de Luciana Brito e também de Giselle Moraes sobre a humilhante cena delatam que mais uma vez todas as pessoas negras, e as mulheres negras em particular, foram atacadas subliminarmente em plena Semana de Consciência Negra. Só não fica indignado quem não consegue entender que por traz de tudo isso há muito mais que uma simples trama de novela, mas uma franca campanha promovida principalmente por Ali Kamel dentro da Globo contra toda uma luta anti-discriminação.
Afroabraços,
Helio Ventura
VEJA TAMBÉM: http://helioventura.blogspot.com/2009/11/absurdo-ataque-humilhacao-e-mensagem.html