sexta-feira, outubro 23, 2009

É possível um capitalismo Sustentável?

David Barkin (profº da Universidade Autônoma Metropolitana do México – Unidade de Xochimilco) faz uma explanação em um texto, sobre as experiências no México, que vão na contramão da hegemonia da economia de mercado e do próprio sistema capitalista.

Destacam-se algumas experiências bem sucedidas de sustentabilidade em trabalhos desenvolvidos por comunidades campesinas e indígenas, baseadas em saberes tradicionais, uma relação holística com a natureza, práticas agroecológicas, incorporação de todas as dimensões do território – como espaço físico, cultural, social e ambiental. Podemos dizer que, em toda a América Latina, vamos encontrar experiências semelhantes, ou seja, construção de espaços de sustentabilidade dentro do mundo atual, uma estratégia alternativa de produção sócio-político-ecológica.

Alguns questionamentos são pertinentes sobre os princípios dessa sustentabilidade expostos perante o sistema capitalista, por exemplo, até que ponto podemos afirmar que esta experiência tem uma verdadeira autonomia frente aos poderes do mercado e os estados neoliberais? Isso é possível? Pode-se obter uma autonomia relativa, que não o torna independente da globalização, que é a própria lógica do desenvolvimento do capitalismo – baseada na apropriação privada dos meios de produção e na concorrência entre capitais – fatores que alimentam a concentração e a centralização do capital.

Portanto, o processo de globalização que observamos hoje já estava inscrito no código genético do capitalismo desde de suas origens. Outro princípio da sustentabilidade – a democracia participativa – tem seus limites na retórica, pois o que se evidência é a assimetria entre a base e as lideranças.

Com a globalização da economia, o capitalismo se expandiu em todo o globo terrestre, inclusive nos “mercados” mais íngrimes “concordemos ou não, gostemos ou não, a globalização é um fato cotidiano que permeia a nossa realidade, desde o creme dental que usamos, a roupa que vestimos, o tênis que calçamos, os alimentos enlatados que comemos, o programa de tv a que assistimos, o jornal que lemos, o computador que utilizamos, o banco em que recebemos o salário ou realizamos o negócio, a internet em que navegamos, entre outros milhares de aspectos do nosso dia a dia. Portanto, globalização é um fenômeno típico do capitalismo contemporâneo” (COSTA, Edmilson – A globalização e o capitalismo contemporâneo- Expressão Popular).

O sistema produtor-destruidor de mercadorias é o modelo dominante que expropria numa velocidade atômica, extraordinariamente mais a natureza do que os nichos de resistência e modelos alternativos o fazem, o que não significa deixar de reconhecer a importância dos espaços alternativos, mas estes, por si só, reproduzindo-se de formas isoladas, não sendo um processo de acúmulo de forças, de resistência e de ação organizada e centralizada que coloquem na ordem do dia a necessidade de transformação social, não vão conseguir superar o modelo hegemônico do capital. A lógica de acumulação e a velocidade de desapropriação da natureza nos fazem pensar, de forma racional, que o destino da humanidade tem uma profunda possibilidade de perecer.

As questões sociológicas colocadas são as seguintes:

a) O capitalismo será capaz de fazer um novo contrato societário e de se submeter a uma metamorfose que possa mudar a sua lógica de acumulação, exploração e lucro? Se conseguir realizar, isto não será mais capitalismo;

b) Existe hoje a possibilidade da união dos excluídos, dos explorados, dos oprimidos do mundo, de se desalienarem e adquirirem uma consciência da necessidade de transformar a sociedade em tempo hábil?

c) A terceira hipótese é a de que, se o sistema conseguir ir se reproduzindo e ir ganhando fôlego ao contornar as suas crises, quanto tempo teremos, mantendo-se o ritmo de acumulação e expropriação sistemática da natureza?


Os reformistas sociais liberais ou os ambientalistas de mercado acreditam serem capazes de recauchutar o capitalismo e se propõem a administrá-lo, pelo contrário, minha conclusão é de que – NÃO É POSSÍVEL UM CAPITALISMO SUSTENTÁVEL – como dizia Marx em suas teses sobre Feuerbach : “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”.


José Ernesto Alves Grisa

Mestre em Sociologia UFRGS/IFF

Profº de Sociologia e Extensão Rural

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