domingo, julho 12, 2009

Emir Sader: ética contra a publicidade

por Emir Sader, no seu blog em Carta Maior

As novas regras de publicidade impedem que pessoas consideradas celebridades façam propaganda de remédios vendidos sem receita. É o mínimo de defesa dos cidadãos que se pode estabelecer. Se coloca em questão, pela primeira vez, uma das expressões mais instrumentalizadoras de personagens tornados famosos pela mídia, para vender qualquer tipo de produto.
Me lembro perfeitamente das publicidades milionárias do governo FHC para privatizar a Vale do Rio Doce, feitas por Raul Cortez. Um artista que conquistou fama por seu meritório trabalho no teatro e por um muito menos em telenovelas da Globo, se valia da empatia com sua imagem, para vender a privatização da maior empresa do seu ramo no mundo, com argumentos que se revelaram totalmente falazes com o passar do tempo.
Da mesma forma outros artistas ou esportistas vendem, a preço de ouro, suas imagens, para promover a comercialização de mortadelas, apartamentos, carros, bancos, cervejas, entre tantas outras mercadorias. O que tem a ver a imagem de cada um deles com os produtos que anunciam? Não são nem sequer suas preferências pessoais. Veja-se como Zeca Pagodinho anunciou uma cerveja que se conhecia não ser da sua preferência, mas que lhe pagou mais. Depois voltou àquela que prefere, não por ter mudado de marca, mas por uma oferta publicitária maior.
Em vários países escandinavos é proibida qualquer publicidade nos horários prioritários das crianças verem televisão, por considerar que elas são excessivamente frágeis, indefesas, diante da agressividade das ofertas das mercadorias que lhes são oferecidas pela televisão. Enquanto que o mercado deita e rola em cima das crianças, um nicho de mercado bombardeado com comidas, roupas, celulares, entre tantas outras coisas.
A mercantilização da vida se propaga através da publicidade, veiculada de forma privilegiada pela televisão. Vale tudo para vender. Um conhecido publicitário brasileiro disse, com toda sinceridade, que a publicidade não tem ética. Dêem-me um produto e eu encontrarei a fórmula de dizer que é bom para as pessoas, que vale a pena comprá-lo. O sucesso de vendas de um produto não está na aceitação das pessoas, no reconhecimento das suas qualidades, mas no mérito das campanhas que o promovem. Da mesma forma que se diz que um processo na Justiça não é ganho por quem é inocente, mas por quem disponde do melhor advogado. Isso se estende às eleições, em que os marqueteiros passaram a ser mais importantes do que as plataformas que os candidatos defendem.
O marketing, a publicidade, são expressões da concepção de mundo que buscar mercantilizar a tudo, que trata de que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, da visão da sociedade como uma espécie de shopping-center, da vitória do mercado contra o direito.
Democratizar é desmercantilizar, é afirmar direitos e a esfera pública contra o reino do mercado e do marketing.

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