sábado, março 21, 2009

Vamos falar do que?


Sou um privilegiado, tenho boas condições de moradia, me alimento e me visto bem, frequento lugares legais e convivo com pessoas com essas mesmas condições. Estou saindo da juventude, com quase 25 anos algumas preocupações começam a nos atormentar, mas não são todos que passam por esse processo. Esses dias me fiz uma pergunta que me inquietou: sobre o que os jovens-adultos como eu conversam? Quais os temas dos papos dos bem de vida?
Tenho algumas hipóteses advindas das minhas experiências, do meu convívio e algumas suposições. Se fizermos uma banca de apostas, futebol e mulher seriam os assuntos escolhidos pela maioria para dar seus lances, no entanto esse chavão vem enfraquecendo na minha opinião. No passado essa aposta seria certeira, hoje nem tanto. Drogas! Esse é o principal tema, ou melhor, é o tema desencadeador das conversas, das risadas, das histórias.
Vários dos meus contemporâneos vão pensar; "ta e daí? que caretice". Pode ser, mas vou tentar me explicar. Meu problema não é somente com as drogas (seus males a saúde e os perigos do seu excesso) e sim com a cultura rasteira que ela produz. Sabe quem mais se destaca na sua turma hoje em dia na burguesia? Sabe quem mais tem a palavra? Quem é o mais engraçado e serve de modelo? É aquele que mais coisas absurdas faz, aquele que extrapola o limite do nexo, da educação, é aquele que sob o efeito químico tem a história mais arriscada, mais violenta, mais escatológica, enfim, aquele que não é diferente pelo que é como pessoa ou pelo que produz como ser humano e sim pelas bizarrices capaz de cometer no momento mais distante de si mesmo, ou seja, alterado.
Portanto, o que existe é uma disputa para ser o sujeito descrito acima, e como se chega a esse objetivo? Se distanciando, significativamente, de tudo que pode ser "normal" ou "certo", já que ser comum é não ser visto. A juventude abastada que pouco se interessa (salvo exceções) por problemas de outros grupos sociais, que pouco lê, que não se deixa levar por outras curiosidades a não ser a de "experimentar", achou uma maneira de fuga muito prazerosa e nela fica girando em si mesma.
Todas essas características não são passíveis de generalizações, mas são evidências da cultura da droga cara a qual me referi. Futebol e mulher continuam sendo assunto, conversas regadas a inúmeros produtos, que por sua vez produzirão efeitos e esses serão responsáveis pelas peripécias, e essas se tornaram histórias que serão contadas e as risadas serão dadas e os exemplos de pessoa constituídos. Como se a virtude de tais histórias fosse fruto do seu ser, quando na verdade, é fruto do que essa cultura da fuga e da droga o tornou. Refinaram-se também os valores e infelizmente pra pior.
Não quero esse mundo para o meu mundo, e não são as "qualidades" já referidas que irão melhorar ou mudar alguma coisa, o vício orgânico, a dependência mesmo não é cabível de julgamento, entretanto, os efeitos históricos de toda essa cultura nos grupos e nas personalidades das pessoas são passíveis de análise crítica, sim.

Um comentário:

Gregório Grisa disse...
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