terça-feira, outubro 10, 2006

A caminho

As crianças se concentram por pouco tempo, elas são assim, mas nós queremos que elas se dediquem a reflexões e entreguem seu tempo a atividades sem resposta para elas. Dois irmãos, um de 9 anos e outro de 12, conheceram um riacho para fora, quando foram a um piquenique promovido pela ong do pai deles. Esse riacho era bem estreito, mas se perdia pela mata, ia como se fosse uma trilha cortando e aguando o caminho.
Aquela visão se destacou aos olhos dos meninos, mas o que realmente aguçou-lhes a curiosidade foi à idéia de descobrir onde acabaria aquele riacho. Enquanto o resto das pessoas estava fazendo um jogo de grupos e disputavam provas em que eles quase não conseguiam concorrer, os meninos resolveram seguir o riacho sem que ninguém notasse a saída.
Pedras eram poucas, a água era rasa e limpa, limo só nas raízes. Assim, eles foram indo, caminharam por um bom tempo, já era quase noite, quando o mais novo pediu para o irmão que voltassem. O mais velho resolveu seguir mais um pouco, pois o riacho ainda não tinha acabado, mas a mata estava cada vez mais fechada, então o caçula parou e disse que esperaria seu irmão ali parado, pois estava cansado e com dor nos pés.
O pequeno sentou-se na beira da água, onde molhava as mãos e sentia o gelo e a leveza das nanicas ondas causadas só pelo embalo da floresta e via seu irmão se perder ao longe, nem o reflexo da jaqueta vermelha se via, já que o sol não dava mais conta do cenário. Depois de algum tempo ali pensando em como seria morar perto de tudo aquilo, o menino, ao levantar-se, ouviu um chamado do irmão que parecia estar longe pelo eco da sua voz:
- Mano , vai indo...
Ele não entendeu muito o recado, mas obedeceu e com alguma tensão no respirar resolveu correr. Olhou poucas vezes para trás, já era um tanto quanto difícil de enxergar, e ele pensava o quanto eles tinham ido, pois nunca chegava onde estavam seus pais. Nem voz, nem luz, tudo se foi. Para que lado ele foi, eu realmente não sei, Lúcio tinha 9 anos.

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